Atriz comoveu o Brasil ao interpretar a cantora Maysa na TV. Foi um caso típico de viver profundamente a personagem e, depois, ser difícil ‘desencarnar’: ela olha para as fotos da época e mal se reconhece. Descansada a imagem, Larissa comemora o fato de Felícia, em ‘Passione’, ser completamente diferente: “Ela não se impõe, não tem brilho”.
O DIA — Você chamou a atenção do Brasil de um dia para outro como Maysa, na série de TV. Agora, comentam que, em ‘Passione’, sua personagem é apagada. Você lida tranquilamente com as comparações?
Larissa Maciel — Sou bem tranquila em relação a isso, sim. Para mim, se a personagem é boa, não interessa se vou falar duas frases e ir embora ou se é protagonista. Só não vou gostar se não tiver história própria, pois virei atriz para contar histórias. E a da Felícia é interessantíssima. Totalmente oposto do que eu tinha feito antes na TV. Acho que as pessoas confundem atriz apagada com personagem apagada. A Felícia é muito frágil e, para mim, como atriz, isso é bem legal.
— Por quê?
— Porque sou totalmente diferente dela. Felícia não se impõe, não tem brilho. Já eu tenho um olho vivo, sangue italiano. Quando falo, mexo muito as mãos, sou extrovertida. E ela é para dentro, quietinha. Não é uma situação confortável porque trabalha uma energia de quem não se acha bonita, nem é olhada por ninguém. Não uso maquiagem, visto uma roupa que não me valoriza, um sapato que me tomba. Mas, como atriz, é uma delícia entrar nesse universo tão diferente do meu.
— Neste trabalho você aparece com a cara lavada, para viver Maysa você engordou seis quilos... Vale tudo por uma personagem?
— Se você está disposta a se entregar ao papel, sim. Só não vale se sentir violentada.
— O fato de ter estreado como protagonista de uma minissérie de sucesso aumenta a pressão sobre você?
— As pessoas acham isso porque comecei com Maysa. Mas não me sinto pressionada. Não tenho deslumbramento com essa profissão. Para mim, é tudo muito claro. Já fiz espetáculo para pouca gente, já carreguei cenário. Então, sempre procuro dar o melhor de mim focando no meu personagem. Não fico pensando no que as pessoas vão falar ao redor. Até porque a TV entra na casa de todo mundo e, se eu fosse ficar pensando nisso, ia ser enlouquecedor.
— O tempo que você ficou distante da TV foi essencial para descansar sua imagem?
— Acho que foi ótimo. A minissérie foi um trabalho atípico e acho que realmente fiquei misturada com ela. Olho fotos do meu aniversário daquele ano, que foi logo depois do fim das gravações, e não me vejo. Meu rosto tinha outra expressão. Eu estava cansada e muito parecida com ela. Você trabalha para chegar em um lugar e você chega. Sem contar que esse tempo foi bom porque consegui me casar, ter um tempo para mim.
— Felícia vive o drama de esconder da filha que é sua mãe e não se relaciona com ninguém, é solitária. As mulheres são solidárias à sua personagem nas ruas?
— Já ouvi desabafos, mas elas sempre dizem que têm uma amiga como a Felícia, nunca são elas mesmas. Acho que tem muita mulher por aí como ela, que não acredita nos seus potenciais. E no mundo de hoje, com todo mundo se relacionando pelo computador, as relações ficam ainda mais fragmentadas. Você tem um monte de amigos que não são concretos. Sou meio resistente a isso. Não tenho Orkut ou Facebook porque, com meus amigos, eu me relaciono mesmo. Gosto de contato físico, de chamar para ir em casa. O computador é um facilitador, mas acho que tem muita mulher sozinha porque quando você desliga a máquina...
— Fátima está prestes a saber que Felícia é sua mãe e a chegada de Totó ao Brasil também deve mexer com sua personagem. O quanto tudo isso vai transformá-la?
— Ela já deu início a um processo interno de mudança ao ver sua história se repetir na filha. Tudo porque naquela casa não existe diálogo. Mas, quando conseguir revelar à Fátima esse segredo, vai tirar um peso de suas costas. E acredito que, quando o Totó chegar, o negócio vai ser forte, por 17 anos sem nada (risos). O que está amortecido vem com tudo. E a vaidade também está muito relacionada ao sexo oposto. Por isso que até agora ela é aquela mulher que só tem um brinco, um escapulário e um relógio. Só vai comprar roupa quando está precisando. Isso deve mudar.
— Pelo jeito você é bem diferente dela nesse quesito...
— Acho que tenho todas as vaidades. Sou supermenininha. Gosto de perfume, maquiagem, tenho paciência para passar creminho em cada parte do corpo. Meu marido até sabe que, quando vou para o banho, nunca é rápido.
— Você se casou há pouco tempo, mas já namorava o André há 9 anos. Pretende levar a experiência de ser mãe da ficção para a realidade?
— Por enquanto está gostoso do jeito que está. Na minha família, as mulheres tiveram filho um pouco mais tarde e não vejo isso como um problema. Estou com 32 anos e acho que dá para começar aos 35, já que quero ter dois e ficaria tarde começar aos 40.